quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Meu Jardim de Solidão

Onde estou vivendo, as flores sentem a minha dor, e não desabrocham. Parece que elas querem me acompanhar nesta trajetória de se fechar para o mundo, escondendo sua beleza. Afinal, de que adianta a beleza das flores, se as formigas as destroem sem piedade?
O inverno é a única estação que passa por meu jardim. Escondo-me embaixo da árvore mais sombria, pois não quero que o Sol deboche de minha solidão.
Com seu brilho e calor escaldante, a Grande Esfera de Fogo aquece e ilumina todos os casais que passam em frente ao meu jardim falecido, mas parece que ela não quer aquecer um coração partido, que pulsa sem nunca ter sentido o que é ser amado.
Toda esta tristeza se deve a um sonho antigo, de poder colher a rosa mais bonita que eu já conhecera, porém, quando esta oportunidade me veio, feri-me em seus espinhos, e pude perceber que a linda flor nunca poderia enfeitar meus canteiros sem que eu sangrasse a cada vez que fosse tocá-la.
Agora minhas flores não desabrocham, minhas árvores não dão frutos, e eu recolhi minhas sementes. Nada mais poderá ser gerado por mim. Só cultivo criaturas mortas.
Sou a erva daninha que atormenta o meu jardim, entristecendo tudo que há em volta. As flores sentem minha tristeza, e morrem junto comigo, como o meu coração, e minha coragem...
Companheiras inseparáveis, as tristes flores, que já não conversam mais comigo, apenas desfrutam de meu silêncio, refletindo sobre todos os males que nos afloram, todas as energias negativas que nos impedem de viver, e nos incentivam a não querer que isto aconteça.
Mas há flores que não morrerão. Flores que não se preocupam por ter roubado toda a minha essência, meu adubo; e esta cresce e floresce sem perceber que me mata com a sua ausência.
O lugar que reservei em meu jardim para esta flor está vazio, apesar de ser o único iluminado pelo Sol, que o faz para que eu veja o vazio deixado em um pedaço de terra onde bombeia o meu sangue, que pulsa cada vez mais despreocupado, sem intensidade, apenas o suficiente para manter-se vivo, mesmo sem querer que isto aconteça.
Amaldiçoada flor bela, que um dia já foi minha, mas que feriu tanto, que hoje já não posso tocar em nenhuma outra flor, pois meus dedos calejados, ainda pulsam a dor da primeira, que nada mais foi do que a raiz de minha solidão.

Fernanda de Almeida Almeida